Do ponto de vista de negócios, a experiência do coronavírus nos fez sentir um pouco assim. Esperando sem muita esperança pela confirmação de governos e órgãos internacionais de que as atividades poderiam ser retomadas.
E mesmo em lugares onde essa resposta já foi dada, varejistas tentam entender qual é a melhor estratégia para reabrir as portas e voltar a receber os clientes de forma segura.
O que a maior parte das pessoas quer é voltar a fazer negócios como sempre, mas o que antes nós achávamos normal agora pode ter virado história. Como aconteceu em muitos outros setores da sociedade, o COVID-19 nos fez entender que era preciso mudar e despertou uma nova transformação no varejo.
As pessoas estão vivendo, trabalhando e comprando de forma diferente. A história mostra que nunca houve uma transformação tão rápida nos hábitos do consumidor. Nós identificamos quatro etapas de mudanças pelas quais compradores passaram nesse período. O que só conseguiremos responder daqui algum tempo é: essas alterações são permanentes, ou são o resultado temporário de uma situação inesperada?
Talvez a mudança mais chocante no comportamento do consumidor tenha sido o efeito manada que marcou o início da quarentena, com pessoas correndo ao mercado com medo de desabastecimento. Motivados pelo alto nível de ansiedade, preocupação, ou talvez apenas pelo fato de outras pessoas estarem fazendo o mesmo, compradores enlouquecidos esvaziaram as prateleiras de supermercados e farmácias. No Brasil, só em abril houve um crescimento de vendas de 4,8% em supermercados. Já as farmácias viram um aumento de vendas de 55% de março a junho.
Quando a ficha do isolamento começou a cair na consciência coletiva, muitos consumidores migraram seus hábitos de compra para o ecommerce. O volume de varejo online processado pela Adyen cresceu entre o fim de março e o meio de abril. Além de itens de necessidade básica, os consumidores passaram também a comprar para aliviar o tédio do isolamento. O mesmo estudo mostra como, de março a junho, a procura por itens de casa e decoração cresceu 74%. Ao perceber a tendência, muitas empresas passaram a procurar novas formas de vender online remotamente.
Com as 290 lojas fechadas de repente, a C&A logo desenvolveu um plano novo:
Fernando Guglielmetti ∙ Gerente sênior de ecommerce, C&A
Mas alguns resistiram à migração para o ecommerce e esperaram pacientemente até a reabertura das lojas. No caso desse grupo, as necessidades que surgiram nos primeiros três meses de pandemia foram se acumulando, resultando em uma alta demanda quando os estabelecimentos começaram a reabrir. Nos principais centros comerciais brasileiros, pessoas apareceram antes mesmo do horário de reabertura das lojas e formaram filas que viravam a esquina. Agora, segundo especialistas como Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, varejistas podem se preparar para a maior Black Friday da história.
Para a maior parte das pessoas, cuidado será a palavra de ordem daqui para frente. E se até pouco o foco dos varejistas era proporcionar uma experiência estimulante, agora o objetivo passará a transmitir segurança.
Pode parecer contraintuitivo, mas uma das melhores formas de capitalizar com a reabertura limitada da sua loja é investir em engajamento digital. Se todos o seu catálogo estiver disponível online, com detalhes e imagens em alta resolução, compradores podem fazer a pesquisa de casa e ir à loja sabendo exatamente o que querem. Assim, eles passarão menos tempo no estabelecimento, e você precisa fazer com que eles se sintam confortáveis rapidamente, reduzindo também as interações desnecessárias com os vendedores.
As mudanças impostas pelas quarentenas podem causar pânico, tédio e até a diminuição de gastos para algumas pessoas (e aumento para outras). A primeira lição para varejistas é: mantenha-se flexível e acolhedor para qualquer que seja a demanda e humor do cliente.
No capítulo 2, vamos analisar como as lojas podem se adaptar às novidades.